15 de Julho, e pouco passa das 5 da manhã. Estou ao som das ondas, virado para o mar, a escrever num bloco de notas à moda antiga.
Curiosamente não estou sozinho. A não mais de 20 metros está um grupo com cerca de meia dúzia a dormir em sacos cama à beira mar, apesar de a noite não ser particularmente agradável. Está uma leve brisa, que com o frio da noite e a humidade inerente torna a hora austera. Estranhamente, agradeço esta espécie de companhia.
Apesar da ainda escuridão absoluta a noite está a terminar, e atrás de mim o sol ameaça começar novamente o seu reinado. Pausei um pouco para um cigarro.
Não estou numa praia qualquer. Estou na costa, na praia da saúde, ou como às vezes é chamada devido ao seu bar, praia do golfinho. Também não estou aqui por acaso, o destino trouxe-me aqui.
Cresci aqui. Esta praia foi casa de algumas das minhas maiores felicidades, a começar pela inocência da infância. Foi onde conheci e cresci com o meu irmão por escolha, daquelas pessoas que são mais para nós do que a família por sangue. Aqui muito brinquei e sonhei, partilhei grandes momentos e vivi grandes paixões. Foi aqui que começou.
No entanto, foi também aqui o fim. Mais do que uma vez. É assim.
Este lugar está-me na alma e faz parte de quem eu sou, pelas memórias e pelo que representa, até porque no fundo tudo são memórias.
A maré está a subir e espero que não apanhe os sujeitos ali a dormir, ou pelo menos a tentar, visto que se levantaram várias vezes. Talvez a ideia da companhia não seja recíproca. A areia está molhada já onde estou e a maré aparenta até estar a descer, mas conheço este mar demasiado bem. E com isto começa-se a ouvir o primeiro chilrear, e assim começa o dia.
Foi aqui que começou, faz sentido que eu voltasse. Recordo agora as vezes que aqui vim com o Tiago, em alturas não muito diferentes desta, para nos procurarmos, para nos sentirmos vivos, para sofrermos as nossas angústias e o que é o nosso inevitável fado. Foi também aqui que começou. Perdidos na vida. Perdido na vida.
Longas noites passámos, num choro silencioso com diálogos inexistentes. A visão do mar é a visão da existência, a perpétua recorrência perante o infindável. A incansável persistência face ao infinito.
Não é a falta de um objectivo. Não é falta de paixão. É a falta dum lugar. É este o que denominamos o espírito do Tejo.
Mas não é só. É também o estar-se perdido na vida, precisamente na sua beleza e nas paixões que dela deriva. É estar à beira mar a saborear a sua chuva, o cantar dos pássaros, a fria areia e vento gélido, pois isto é a vida, e viver é paixão.
E paixão é propósito, mas propósito não é significado. Não é. Para alguns, talvez. É isto o espírito do Tejo.
São 7 da manhã e é agora completamente de dia. O mar não subiu o suficiente para estorvar e os fulanos continuam na sorna.
E o que resta disto? Nada. É um sentimento pelo qual não quero dar ares de poeta, temos Pessoa que infindávelmente o descreveria melhor, pois a realidade é fria e trágica.
O problema é isto não fazer sentido, porque as memórias são o melhor e o que fica, mas, no fim, quando tudo acaba, as memórias não são nada.
E aqui voltei.
…
Curioso. Lembro-me, ironicamente, de ter escrito algo metaforicamente equivalente às minhas reais palavras de agora e ter terminado também com a minha percepção de regresso. É um círculo. Inevitavelmente parece ser um círculo. Quanta estupidez.
Perdoem-me. Foi um devaneio de alguém que é demasiado apaixonado pela vida, e que abomina em demasia a sua existência.
Curiosamente não estou sozinho. A não mais de 20 metros está um grupo com cerca de meia dúzia a dormir em sacos cama à beira mar, apesar de a noite não ser particularmente agradável. Está uma leve brisa, que com o frio da noite e a humidade inerente torna a hora austera. Estranhamente, agradeço esta espécie de companhia.
Apesar da ainda escuridão absoluta a noite está a terminar, e atrás de mim o sol ameaça começar novamente o seu reinado. Pausei um pouco para um cigarro.
Não estou numa praia qualquer. Estou na costa, na praia da saúde, ou como às vezes é chamada devido ao seu bar, praia do golfinho. Também não estou aqui por acaso, o destino trouxe-me aqui.
Cresci aqui. Esta praia foi casa de algumas das minhas maiores felicidades, a começar pela inocência da infância. Foi onde conheci e cresci com o meu irmão por escolha, daquelas pessoas que são mais para nós do que a família por sangue. Aqui muito brinquei e sonhei, partilhei grandes momentos e vivi grandes paixões. Foi aqui que começou.
No entanto, foi também aqui o fim. Mais do que uma vez. É assim.
Este lugar está-me na alma e faz parte de quem eu sou, pelas memórias e pelo que representa, até porque no fundo tudo são memórias.
A maré está a subir e espero que não apanhe os sujeitos ali a dormir, ou pelo menos a tentar, visto que se levantaram várias vezes. Talvez a ideia da companhia não seja recíproca. A areia está molhada já onde estou e a maré aparenta até estar a descer, mas conheço este mar demasiado bem. E com isto começa-se a ouvir o primeiro chilrear, e assim começa o dia.
Foi aqui que começou, faz sentido que eu voltasse. Recordo agora as vezes que aqui vim com o Tiago, em alturas não muito diferentes desta, para nos procurarmos, para nos sentirmos vivos, para sofrermos as nossas angústias e o que é o nosso inevitável fado. Foi também aqui que começou. Perdidos na vida. Perdido na vida.
Longas noites passámos, num choro silencioso com diálogos inexistentes. A visão do mar é a visão da existência, a perpétua recorrência perante o infindável. A incansável persistência face ao infinito.
Não é a falta de um objectivo. Não é falta de paixão. É a falta dum lugar. É este o que denominamos o espírito do Tejo.
Mas não é só. É também o estar-se perdido na vida, precisamente na sua beleza e nas paixões que dela deriva. É estar à beira mar a saborear a sua chuva, o cantar dos pássaros, a fria areia e vento gélido, pois isto é a vida, e viver é paixão.
E paixão é propósito, mas propósito não é significado. Não é. Para alguns, talvez. É isto o espírito do Tejo.
São 7 da manhã e é agora completamente de dia. O mar não subiu o suficiente para estorvar e os fulanos continuam na sorna.
E o que resta disto? Nada. É um sentimento pelo qual não quero dar ares de poeta, temos Pessoa que infindávelmente o descreveria melhor, pois a realidade é fria e trágica.
O problema é isto não fazer sentido, porque as memórias são o melhor e o que fica, mas, no fim, quando tudo acaba, as memórias não são nada.
E aqui voltei.
…
Curioso. Lembro-me, ironicamente, de ter escrito algo metaforicamente equivalente às minhas reais palavras de agora e ter terminado também com a minha percepção de regresso. É um círculo. Inevitavelmente parece ser um círculo. Quanta estupidez.
Perdoem-me. Foi um devaneio de alguém que é demasiado apaixonado pela vida, e que abomina em demasia a sua existência.
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