Após profunda reflexão sobre o que referi no meu anterior texto, começo a traçar conexões entre certas coisas que dou como garantidas mas incompreendidas pelo meu ser.
Refiro-me, neste caso, ao meu conceito de destino. Eu não acredito no destino, mas acredito numa ligação entre eventos dispersos, evidenciada pelo acontecimento de situações que avalio como bastante improváveis, em massa e regularmente. Retiro a importância aos menos improváveis devido à sua facilidade de origem derivada de uma qualquer paranóia. Se nunca repararam no que me refiro, vejam à vossa volta e aí pensem no assunto. (Vejam, não procurem. Procurar e encontrar é (ainda) mais provavelmente paranóia.)
A meu ver, o destino como um caminho certo de progressivos eventos não existe. Nós, como qualquer ser consciente, somos mestres do nosso destino. (E, claro, afirmo isto com noção que pode ser a nossa, minha, consciência e arrogância a determinar uma diferença. Mas se ela existe, é lógica e faz todo o sentido.) No entanto, há o que eu determino como destino, que é o caminho mais provável para uma série de eventos - ou seja, a realidade tende um curso (que posso denominar como) normal. Na sua consciência, um ser altera esse rumo, ideal à natureza, tornando-o ideal para si mesmo. Afinal, não passa a noção de consciência precisamente por isso?
Através de real inacção (específico "real", pois a inacção pode ser um tipo de acção por si) ou de acções tomadas de acordo com essa inclinação intrínseca à realidade para assumir um dado curso, acabamos por nos aproximarmos desse fluxo original de eventos (imaginemos um atalho, ou mesmo um percurso mais longo numa mesma corrida).
Por agora já deve ser compreensível a ligação ao texto precedente e como eventualmente me veio fazer relacionar pontos. Algo que se aprende em física é que no funcionamento do universo existem mais coisas com um funcionamento igual ou muito semelhante a um outro mais simples (matematicamente através de fórmulas iguais, com variáveis diferentes e/ou constantes adicionais, mas funcionalmente semelhantes) do que poderíamos inicialmente imaginar. Uma outra realidade na física é a disposição de todo um qualquer sistema para o equilíbrio. Einstein dizia que Deus não brincava aos dados com o universo e, independentemente da existência dum criador ou não, a verdade é que deve de haver uma qualquer lógica por de trás de tudo, por mais incompreensível ou ilógica que nos pareça.
Talvez se deva reavaliar a noção de caos. Vejamos o dicionário (neste caso o Encarta On-Line):
1. disorder: a state of complete disorder and confusion
(desordem: um estado de completa desordem e confusão)
2. cosmology earliest condition of universe: the unbounded space and formless matter supposed to have existed before the creation of the universe
(cosmologicamente a primeira condição do universo: o espaço livre e a matéria sem forma que supostamente existiu precedente à criação do universo)
3. physics apparent disorder: the unpredictability inherent in a system such as the weather, in which apparently random changes occur as a result of the system's extreme sensitivity to small differences in initial conditions
(aparente desordem física: a imprevisibilidade inerente num sistema tal como o tempo (metereológico), em que mudanças aleatórias aparentemente acontecem como resultado da extrema sensibilidade do sistema a pequenas diferenças ás condições iniciais)
Um estado de desordem e confusão. Espaço livre e sem forma. Imprevisibilidade num sistema derivado a alterações impostas.
A ordem e desordem são conceitos criados e impostos pelo homem e como tal devem ser interpretados de forma menos radical do que o suposto. Sim, pode-se interpretar o caos como desordem, pressupondo que a ordem é o reflexo de um esforço consciente. Isto confirma precisamente que a natureza tende para o caos. Prefiro, portanto, interpretar o caos não como um caso de desordem, mas de falta de ordem. Enquanto que a ordem é subjectiva à consciência, o caos simplesmente é, existe. Não podemos discutir, compreender ou avaliar algo sobre padrões humanos quando não fomos nós a criar o conceito e, como tal, temos de por de parte todas as nossas bases. Num aparte, é daí que vem a aversão ao caos, envolve trabalho para ser contrariado. (Na nossa arrogância queremos que as coisas sejam como desejamos.)
Um espaço livre e sem forma. A liberdade e, até um certo ponto, a forma, são também conceitos humanos e, como tal, se o universo era então ainda o é. Nós é que o definimos e, tal como a forma, a sua ordem e desordem é apenas atribuída por nós. É então irrelevante para o argumento.
Finalmente o mais importante e intuitivo, e simultaneamente o menos óbvio. O sistema é imprevisível (chamemos-lhe Destino), e é facilmente modificado devido a alterações impostas (chamemos-lhe Acções). As acções conscientes são o que desviam o percurso do sistema. O que é aparentemente incompreensível é que o sistema não é totalmente aleatório, mas que na realidade tende para o caos. Tende para o equilíbrio. O caos é precisamente o ponto de equilíbrio de toda a realidade.
Tudo isto é algo que, parece-me, todos temos uma certa noção, mas ou nos recusamos a aceitar ou devido a outras teorias a deixamos imediatamente para trás, sem nunca termos realmente pensado nela. Nós sabemos que o caos é imprevisível e sabemos que pode ser alterado, só não o relacionamos com outros eventos. O nosso destino é o caos e é alterado pelas nossas acções, mas ele está lá - é só verem à vossa volta.
Friday, March 30, 2007
A pesada mão do destino.
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